As vendas de cigarro nos supermercados deram um salto em outubro: alta de 9,2% em unidades na comparação com o mesmo mês do ano passado, mesmo diante de um aumento de 11,1% no preço dos produtos. Com isso, o faturamento dos supermercados e atacarejos do país com a categoria cresceu 21,1% no mês.
No acumulado de janeiro a outubro, os cigarros também apresentaram alta expressiva nas vendas: avanço de 11,5% em unidades, em relação ao mesmo período de 2023.
Os dados pertencem a um levantamento da Scanntech, consultoria que mede as vendas no varejo alimentar nacional, desde grandes redes de supermercados e atacarejos até lojas de bairro.
Por meio de sua plataforma de inteligência de dados, a Scanntech faz a leitura dos tíquetes nos caixas da loja, o que permite identificar marca, apresentação, quantidade e preço dos itens. Com isso, a consultoria atende tanto varejo quanto indústria, atuando para detectar demandas, gargalos e sugerir promoções.
O levantamento de outubro, divulgado com exclusividade para a Folha, aponta que a maior alta de preços veio da mercearia básica (cesta que engloba itens como café, arroz, açúcar, leite e macarrão): aumento de 16,6%, o que levou a uma queda de 2,8% em unidades.
“No canal alimentar, mercearia básica cresce quase 17% em preço, mas cai apenas 2,8% em unidades. É uma cesta pouco elástica: apesar do aumento expressivo de preços, a queda em volume é limitada porque o consumidor precisa dos produtos”, diz Priscila Ariani, diretora de marketing da Scanntech.
O destaque em outubro foi para o preço do café: alta de 30,9%, a maior da cesta de mercearia básica, seguida por leite (26,2%), óleo (24,7%) e arroz (20,4%). O aumento do preço do café está relacionado a pressões do mercado externo, com a safra do Vietnã prejudicada pela seca – o país asiático é o maior produtor mundial de café robusta.
Diante do avanço dos preços de itens básicos, o consumidor acaba diminuindo a compra de outros considerados supérfluos, diz Priscila. “A venda da cesta de perfumaria também caiu 2,8% em outubro, embora os preços tenham aumentado apenas 3,5% no mês”, diz. “É uma cesta com muito mais sensibilidade a preço do que mercearia básica.”
Segundo a executiva, no varejo em geral, os aumentos de preços se concentraram no segundo semestre. “Até junho, estávamos vendo os preços sob controle”, diz. Tanto que considerando o acumulado de janeiro a outubro, os preços da mercearia básica avançaram 5,9%, contra 16,6% só em outubro.
Neste cenário, afirma, chama a atenção a venda de cigarros. “É uma categoria que cresce mesmo diante do aumento agressivo de preços.”
O motivo do aumento não está relacionado ao crescimento do consumo da categoria, mas sim à maior demanda por produtos legalizados. De acordo com dados do FNCP (Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade), a venda de cigarros contrabandeados no país atingiu o menor patamar da história, com o fechamento de rotas de importação ilegais.
A participação do produto contrabandeado recuou 25 pontos percentuais desde 2019, tendo em vista o aumento da fiscalização e repressão ao crime organizado. A aproximação de preços entre produtos legais e os ilegais também favoreceu o consumo.
Em 2019, o cigarro ilícito chegou a dominar 57% do mercado – hoje está em 32%, segundo o FNCP. Enquanto isso, o brasileiro continua fumando menos: dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que o consumo de tabaco no Brasil caiu cerca de 35% desde 2010. Hoje, 12,3% da população fuma. Em todo o mundo, há 1,25 bilhão de adultos usuários de tabaco, segundo a OMS.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – DANIELE MADUREIRA