Duas postagens, uma só intenção: deixar nas entrelinhas um possível retorno ao cenário eleitoral capixaba. Se o objetivo era esse, foi alcançado, pois assim foram interpretados dois posts recentes feitos pelo ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung nas redes sociais. No dia 19 de dezembro, ele publicou um vídeo refletindo sobre o panorama político nacional e destacando o surgimento de novas lideranças. No dia seguinte, compartilhou uma foto pedalando em Vitória, ao som da música “Tô Voltando”, de Simone, sugerindo um retorno iminente.
Na música, Simone canta: “Quero te abraçar, pode se perfumar porque eu tô voltando”. Na última campanha em que concorreu e venceu para governador, em 2014, Paulo Hartung tinha como jingle “abrace o Paulo”.
Hartung governou o Espírito Santo de 1º de janeiro de 2003 até 31 de dezembro de 2010, e de 1º de janeiro de 2015 até 31 de dezembro de 2018, sendo sucedido por Renato Casagrande (PSB). Desde que deixou o cargo, ele se manteve ativo em diversas frentes, sempre lembrado e consultado politicamente, mas atuando na iniciativa privada.
Assumiu a presidência executiva da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) em março de 2019 e foi conselheiro em diversas instituições, entre elas a mineradora Vale, onde ocupa o posto de conselheiro independente de administração desde 2023. Paralelamente, participou de debates sobre a política nacional, lançou um livro propondo uma “refundação política do Brasil” e manteve-se próximo de figuras influentes.
No Espírito Santo, Hartung continua sendo uma figura de destaque, com uma rede de influência que atravessa partidos e alianças. Recentemente elogiou Lorenzo Pazolini (Republicanos), reconhecendo a capacidade política do prefeito de Vitória.
Sobre as eleições municipais de 2024, Hartung publicou: “Teve uma coisa muito forte no Brasil que eu quero registrar nesses momentos finais de ano: uma eleição municipal e com ela a gente percebe que está nascendo um novo ciclo de lideranças políticas no nosso Brasil, isso é muito bom. Isso é muito forte porque a gente sabe que nós estamos vivendo a era da digitalização, a era tecnológica. As máquinas são lindas e maravilhosas, mas não substituem gente preparada, com sensibilidade”.
Apesar de Paulo Hartung enfatizar a importância de renovar as lideranças políticas, sua possível candidatura pode ser interpretada como um contrassenso, já que representa a perpetuação de figuras tradicionais no poder, como ele mesmo. Embora defenda o surgimento de novos nomes, se ele estiver cogitando seu retorno como candidato, ele estaria contradizendo o discurso que prega. Uma alternativa seria Hartung apoiar uma nova liderança ou até mesmo incorporar uma dessas figuras emergentes como vice em sua chapa, mostrando que ele traz para junto de si os novos líderes e os ajuda a trilhar o caminho com sua experiência.
Fato é que Hartung está em conversas com o PSD, partido liderado por Gilberto Kassab, disposto a uma possível candidatura nas eleições de 2026. Sua eventual volta ao cenário político estadual pode representar um desafio significativo para os atuais atores políticos, dada sua experiência e habilidade em articular alianças. Levantamento da Paraná Pesquisas feito no início de dezembro indica que Hartung possui 17% das intenções de voto para o governo do Estado, ficando atrás apenas de Pazolini, que soma 22,4%.
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